Coletivo Bliss
A BLISS é fruto de animados papos sobre o ambiente de poesia contemporânea entre Lucas Matos, Clarissa Freitas & Marcio Junqueira em diversos bares e botequins da cidade do Rio de Janeiro. Nós três nos conhecemos numa oficina de poesia capitaneada por Carlito Azevedo na UERJ. Após a oficina, iniciamos um processo de um ano e meio pra chegar ao formato final da revista.
Já nos primeiros papos chegamos ao nome e à ideia de Bliss. Ou como traduz Ana Cristina César: êxtase. Ela quem explica: o êxtase “exprime uma emoção que ou ultrapassa a palavra felicidade ou é mais forte do que ela”. Desde o início, ficou claro que o que queríamos não se tratava de uma antologia do êxtase, ou um esforço de definição ou exemplificação de um conceito. O mote Bliss é antes um corte que permite lançar luz sobre as questões que nos mobilizam enquanto seres do nosso tempo.
Montamos uma revista híbrida, que trabalha com materiais poéticos diversos, como imagens, desenhos, fotografias, quadrinhos, etc. num diálogo intenso com outras artes afins. De um modo geral, nos interessa, como diz Arnaldo Antunes, uma visão da arte “não como uma coisa para falar da vida, mas para viver.
Não sei em qual reunião se decidiu, meio que por acaso, que a revista seria dedicada a Maria Bethânia. Se fruto foi do acaso, não o foi também da falta de sentido. O entrelugar que a artista ocupa: autora que é leitora, cantora que é atriz, intérprete dona de um pensamento original, etc. condensa uma série de estímulos e sentidos quanto às possibilidades de práticas poéticas hoje.
Arnaldo tem uma canção em que fala que saímos de debaixo d’água, onde era tudo mais bonito, mais azul, mais colorido, pois tínhamos que respirar. Apesar de ou justamente por causa disso, as profundezas marinhas também podem ser vistas como um abismo infernal. Não importa: na relação do poeta – da poesia –, do humano com o mar, talvez o que se possa chamar “bliss”. No primeiro volume da trilogia marítima da Adriana Calcanhotto existe uma canção dedicada ao Hélio Oiticica, em que a Adriana se apropria da deslumbrante definição dos parangolés feita pelo Haroldo de Campos “Asa delta para o êxtase”. O verso resume o que desejamos com a revista.
